Congregação localizada em Esmirna

 
Comecaremos nosso estudo, lendo o texto abaixo:

Apocalipse 2:8-11  "E ao anjo da igreja em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu:Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.Quem tem ouvidos, ouça o que o Ruach( Espírito) diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte."
 
Analisando Esmirna nos respectivos contextos histórico; geográfico; econômico; cultural...
 
Numa Análise Histórica, Esmirna, é marcada por situações antagônicas, onde por volta do Século VI AEC, deparamo-nos com sua destruição provocada por Aliates, Rei da Lídia, o qual, mediante política de ações militares, expandiu seu domínio territorial até a região da Ásia Menor, onde Esmirna, estava incluída, a qual ficou devastada por um período de 3(três) Séculos!
 
Entretanto... deparamo-nos mais a frente, com sua reconstrução, entre os Séculos III-IV, através de Lisímaco( um dos generais de Alexandre, o Grande), o qual após a morte de Alexandre, tornou-se um de seus sucessores, herdando a região da Ásia Menor, a Trácia e, a Macedônia.
 
É esse antagonismo que leva alguns estudiosos, a fazerem um paralelo do ressurgimento de Esmirna, após sua destruição,  com a ressureição do Ungido, após seu martírio, ao se depararem com o texto em Apocalipse, no qual lemos o seguinte: " Isto diz o primeiro e o último, que foi morto e, reviveu..."
 
À medida que, buscamos conhecimento acerca de Esmirna, vamos captando mensagens e simbolismos, interessantes, a começar pelo que diz respeito ao nome dessa Cidade, que nos dias atuais, chama-se em turco: Izmir e, cujo significado é Mirra.
 
De acordo com evidências textuais, em Esmirna havia o comércio de Mirra, uma resina/substância extraida da àrvore Cammiphora Myrrha, por meio de esmagamento, usada na fabricação de perfumes( ver Sl 45:8; Pv 7:17; Cantares 1:13); na produção do óleo sagrado para a santa unção( ver Exodo 30:23), além de ser usado na medicina. Daí, provavelmente, afim de aliviar a dor e/ou o sofrimento do Ungido, tenham lhe oferecido uma mistura de vinho e, mirra( ver Mc 15:23); na Palestina, era usado no embalasmento dos corpos da realeza e, pessoas importantes ( ver Jo 19:39).
 
Como podemos perceber, a Mirra formava a base de um comércio vasto e lucrativo em Esmirna, mas o importante a ser mencionado, é a forma como se obtinha essa especiaria: através do esmagamento, pois uma vez, feito a incisão na casca da árvore Cammiphora, o líquido amarelo, que escorria dela, rapidamente endurecia! Por isso, era necessário bater; esmagar o que empedrou, afim de extrair o perfume desejado, de modo a fazer da Mirra, um símbolo de força e resitência.
 
Assim sendo, do mesmo modo que a Cammiphora Myrrha, comum em uma região de terra seca e, sem recursos, consegue sobreviver e, dar frutos, o mesmo ocorre com os crentes em Esmirna, os quais em meio a ambientes hostis e, as adversidades, tais como: a miséria; tribulações; blasfêmias... , perseveram e, dão frutos de emunah e, amor, nos quais se mantém firmes; fortes, remetendo-nos assim ao texto de Cantares 8:6, onde lemos o seguinte: " O amor é forte como a morte".
 
"Se fiel até a morte" , PERSEVERE! O teu esforço e, a tua perseverança em meio as tribulações, não será em vão!
 
Numa Análise Geográfica, a respeito de Esmirna, constatamos que esta, assim como as demais Congregações, descritas no livro de Apocalipse, também, encontra-se localizada na Ásia Menor, conforme podemos observar no mapa abaixo:
 
Considerada a mais bela cidade da Ásia, com suas ruas bem pavimentadas, sendo uma delas conhecida como: "Rua do Ouro", que só pela forma como era descrita, dá para imaginarmos a suntuosidade desse lugar, a qual contribuiu para conceder a Esmirna, o título de  Metrópole.
 
No que diz respeito ao fator Econômico, a base da economia em Esmirna, estava pautada no comércio de Mirra, que conforme já abordamos nesse estudo, tinha um grande valor comercial, que encontrava em seu Porto bem estruturado, a condição necessária para escoar sua mercadoria, além de servir de ponto estratégico para o Império Romano, o qual tendo por objetivo, dominar toda a região da Ásia Menor, via em Esmirna, um local estratégico para instalação de sua base militar, para combater a força marítima de Rodes ( Rodes - cidade grega, considerada uma das 7 maravilhas do Mundo Antigo, situada entre o cruzamento de duas principais rotas marítima do Mediterrâneo, ou seja, entre o Mar Egeu e, o litoral do Oriente Médio, Chipre e, Egito, o que lhe garantia, uma posição estratégia na atividade comercial e militar). O domínio sobre essa área, concederia ao Império Romano, o controle sobre a porção oriental do Mar Mediterrâneo.
 
O fator religioso, também teve grande participação no crescimento e fortalecimento da cidade de Esmirna, onde além dos Templos existentes nessa Cidade, tais como: o Templo dedicado a Zeus e, a deusa mãe Cibele Sipinele(Patrona da Cidade) e, com o reconhecimento do domínio romano sobre a Ásia Menor, esta foi escolhida para se tornar o local, do segundo Templo Asiático, destinado à divindade de Roma e, de seu Imperador e, ao culto dedicado a este (Imperador), cuja prática é datada do Século II AEC.
 
Assim sendo, nesse contexto, dá pra termos uma noção do quanto os crentes em Esmirna sofreram, por se manterem firmes em adorar apenas ao Único e Verdadeiro Elohim! Como dissemos no estudo anterior, sobre Éfeso, aquele que não reconhecia a divinização do Imperador, prestando-lhe culto, era visto como rebelde; como alguém que ia contra os interesses do Estado e, de seu representante legítimo!
 
Dái, a palavra do Ungido revelada a Yohanan para os crentes em Esmirna foi: "se fiel até a morte"!, pois, como podemos perceber, de acordo com relatos bíblicos e, historigráficos,  quem não se dobrava ao Imperador; não servia ao Estado e, por assim ser, a perseverança; a confiança na Palavra de Yah Elohim, e, na única e exclusiva adoração a Yah, resultaria na vida de muitos, a morte!
 
Dando continuidade ao nosso estudo, deparamono-nos com o fato dos crentes em Esmirna serem vistos como pobres! E, a pergunta que nos vem a mente é: como uma cidade próspera pode ter em meio a seus cidadãos pessoas em condições de extrema pobreza? É bem verdade que a prosperidade de uma cidade, não significa que a mesma se estenda a todos seus habitantes, mas o que nos chama a atenção é, o fato de que a condição de extrema pobreza dos crentes em Esmirna, não os afastavam do amor de seu Elohim, mesmo eles, encontrando dificuldades para negociar suas mercadorias, uma vez que, para fazer "negócio", era necessário fazerem parte de associações voluntárias, as quais envolviam cultos de mistérios/ocultos e, devoção ao ídolo "padroeiro" da associação".
 
Conforme nos relata o hsitoriador John Crossan, estas associações garantiam ainda certa mobilidade social aos seus adeptos. Certemente por não poderem, devido sua Emunáh, participarem dessas associções, suas vidas se tornaram bem mais dificeis, no que tange as questões finaceiras e de sobrevivência.
 
Fazendo um paralelo com esses crentes do passado, com os de hoje, podemos pensar no seguinte: Quantos de nós, ao passar por momentos difíceis quer seja no trabalho; em seu relacionamento afetivo; familiar, conjugal... desistem de perseverar na emunah, esquecendo dessa forma que, onde não há certeza, não há segurança! E, não havendo segurança, como poderão servir com fidelidade a seu Elohim? Como se sentirão seguros em meio ao mar bravio? Pois bem, ao contrário dos crentes em Éfeso, os crentes em Esmirna, perseveraram na Emunah... suportaram no amor todo o sofrimento pelo qual passavam!
 
O quadro de pobreza, em que viviam,  provavelmente esteja relacionado ao fato de não mais se curvarem a ídolos e, nem dedicarem a estes, culto de adoração, como por exemplo, ao Imperador. Possivelmente, essa escolha tenha causado uma mudança drástica na vida dos crentes que alí se encontravam, de modo que, os que outrora viviam de maneira próspera, ao receberem as Boas novas de Salvação, viram-se numa condição de penúria; colocados à margem da sociedade! Quem sabe até ouvissem de pessoas que antes caminhavam com eles, o seguinte: " quem mandou vocês abandonarem os nossos "deuses"? Agora estão sofrendo o castigo por tamanha afronta"... " não é problema nosso se vocês não tem o que comer; o que vestir, ou onde morar! Se precisam de ajuda, que peçam a seu Elohim, porque aos nossos deuses, vocês abandoram, então nós também, abandonamos vocês"! 
 
Um ponto importante a ser mencionado acerca da condição de pobreza dos crentes em Esmirna é que, essa pobreza mencionada no texto em Apocalipse, NÃO é metafórica, mas SIM, literal! E, com base em que fazemos essa afirmação? Com base na palavra usada no grego Koinê, a saber: PTOCHOI, a qual é usada para se referir a uma pobreza material que se aproxima da mendicância! Logo, o uso da palavra PTOCHOI no texto que se encontra em Apocalipse 2:9, NÃO se remete a um sentido metafórico de "pobreza espiritual", mas sim uma realidade vivenciada por alguém sem recursos!
 
Vejamos abaixo, o texto de Apocalipse 2:9 na versão grega, onde destacamos a palavra Ptochoi flexionada, onde temos: 
 
 
Pode ser que em nosso meio, haja quem esteja passando pela mesma situação, sentindo na pele as afrontas; provações e, humilhações, decorrentes da Emunah que escolheu exercer em sua vida! Mas, para estes, a mensagem de ânimo é a seguinte: PERSEVERE! Mantenham-se firme! No final, quando tudo passar, porque tudo nessa vida passa, aquele que tiver perseverado na emunah, receberá de Yah Elohim, a honra que lhe fora prometida, além de não sofrerem o dano da segunda morte, a qual se dará para a condenação!
 
Finalizando...
 
A grande lição que podemos tirar dessa Carta à Congregação localizada em Esmirna é: mesmo quando as circunstância não lhe parecerem favoráveis;  PERSEVEREM; mantendo-se firmes em tempos de angústia; perseguição; desemprego; enfermidade; conflitos familiares... PERSEVEREM! No final, vocês verão que terá valido a pena confiar no Yah Elohim. Façamos de nossa fidelidade ao Eterno Yah, algo a ser colocado em prático todos os dias de nossa vida!
 
Bibliografia: 
Diconário Bíblico Wycliffe
Jonh D. Crossan: Em busca de Paulo.
Craig Keener: Comentário Histórico Cultural do Novo Testamento.